INTRODUÇÃO
O ministério da pregação é um dos ofícios mais nobres no meio cristão, por conta da tamanha responsabilidade implícita e explicita nessa tarefa. Pregadores(as) são convocados(as) a gerar vida naqueles(as) que os ouvem por meio da pregação. Essa vida que deve ser gerada é a vida em abundância – vida em pleno sentido (João 10:10). As suas palavras devem estar centradas na narrativa Bíblica sobre o Deus que se fez humano em Jesus. Para tal é necessário observar determinados princípios que contribuem na construção de um ofício exitoso e que glorifique a Deus acima de tudo. Tais princípios compreendem a centralidade das escrituras sagradas, o compromisso ético com o exercício ministerial e uma vocação alinhada à capacitação (dom) divina. Visando ampliar a compreensão desses princípios destrinchamos em oito itens, denominados: Oito erros que todo/a pregador/a deve evitar.
1. Pregação fast food: Falta de preparação adequada
Hoje, por conta das muitas atividades do cotidiano, praticamente estamos todos/as muito atarefados/as, temos inúmeras responsabilidades: emprego, família, lazer, entre outras. Às vezes, por conta dessas questões, fica difícil encontrar tempo suficiente para preparar uma mensagem com fundamento bíblico-teológico e que vá de encontro à realidade dos ouvintes. Com isso, a tendência é alimentar as pessoas com a primeira ideia que vier à mente do/a pregador/a, desde que a mesma pareça minimamente interessante. É fundamental que quem assume o lugar de pregador/a organize a sua agenda de modo a ter tempo necessário e suficiente para uma boa preparação e um bom exercício da pregação.
2. Incoerência entre a mensagem pregada e a prática de vida do/a pregador/a
Pregar o evangelho é uma forma de partilhar com os/as outros/as o perdão, libertação, salvação, acolhimento, cuidado, esperança. Acima de tudo, é uma das formas de partilhar o amor que temos experimentado em Deus. Então, é importante que o/a pregador/a faça sempre um exercício de autorreflexão no processo de preparação da mesma, a fim de que a mensagem possa, em primeiro lugar, gerar ajustes/desajustes, orientação/desorientação, conforto/desconforto, transformação nele e nos outros, posteriormente.
3. Deixar-se dominar pela ansiedade e nervosismo
É fundamental exercitar o autocontrole. Falar em público é um desafio, há quem lida com mais tranquilidade em relação a outros, mas em todo caso é desafiador. A tendência é inúmeras coisas passarem na cabeça de quem prega, principalmente considerando as reações dos ouvintes. Contudo, para se ter sucesso na pregação, é necessário exercitar o autocontrole e como pregador/a estar aberto/a à direção do Espírito Santo.
4. Super espiritualização do pregador
Não procurar passar para a igreja a ideia de ser o mais espiritual ou o mais crente entre todos aqueles que ali se encontram. Evitar falar muito de suas experiências com Deus, por mais fantásticas que sejam. As pessoas se identificam melhor com pregadores que entendem que o evangelho é de gente, o qual deve se fazer presente nos dilemas do cotidiano. É necessário buscar aproximar a linguagem da pregação com a realidade dos ouvintes. Cabe a quem prega fazer um constante exercício kenotico, se autoesvaziar, assim como fez Jesus, Fl 2.5-8.
5. Preocupação excessiva em agradar o público ouvinte
Toda pessoa que prega ou deseja ingressar no mundo da pregação, deve acima de tudo ter um compromisso prioritário com a palavra. É fato que, muitas das vezes, pregadores são tentados a aderirem a um estilo de pregação ou usar uma linguagem que se adequa à/ao realidade/contexto dos espaços onde transitam, visando o crescimento ministerial, a fama, um possível retorno financeiro, porém, é fundamental atentar-se para os perigos que marcam essa trajetória. Quando pregadores se deixam seduzir pelos desejos do seu público-alvo, ou pelas limitações/ordenanças estabelecidas pelos que detêm o poder nos espaços onde os mesmos transitam, acabam sendo coagidos a ministrar coisas que não são verdades oriundas de seu coração, perde-se a sensibilidade, a voz de Deus. Os ruídos desses espaços, os medos, a insegurança retiram dos/as pregadores/as o caráter profético, perde-se o senso de anúncio e denuncia que deve ser a marca de ofício da pregação. Anúncio das boas novas. Anúncio de esperança, de cura, de libertação. Anúncio de vida: vida em abundância/pleno sentido (João 10.10). Denúncia do pecado. Denúncia de experiências aprisionadoras, as quais reduzem as potencialidades da vida humana, denúncia de toda experiência contrária ao evangelho do reino, experiências de morte. Pois o Reino tem como máxima a promoção da vida. A vida é prioridade no Reino. Então, todos/as que pregam devem ter como compromisso fundamental a preservação e promoção de todas as potencialidades da vida.
6. Fazer CTRL + C; CTRL+V de pregação
Ter fontes de inspiração é importante. Todo/a pregador/a deve se espelhar primeiramente em Jesus e, em seguida, em outras pessoas nas quais percebemos razões para nos espelhar. No entanto, isso não significa necessariamente que devemos copiar literalmente as mensagens pregadas por essas pessoas. Pregar é falar ao coração das pessoas, logo, demanda um olhar contextual e uma sensibilidade ao contexto no qual quem prega está inserido. Portanto, cabe ao pregador a responsabilidade de buscar orientação de Deus para trazer uma mensagem que vá de encontro ao coração dos presentes.
7. Fazer do púlpito ou do momento da pregação um lugar de desaforo, um momento para desabafar
Pregadores/as, pastores e líderes devem ter a sensibilidade de separar os momentos. Problemas da comunidade não devem ser resolvidos a partir do lugar da pregação, mas por meio de diálogos saudáveis entre as partes envolvidas. Assim, espera-se de quem faz o uso do púlpito para o ofício da pregação, que não transforme a pregação em desaforo ou desabafo. O fundamento da pregação é sempre o anúncio do Cristo ressurreto e da possibilidade da materialização de seu reinado entre homens e mulheres.
8. Quer pregar um novo evangelho, a revelação da revelação
A tentativa de impressionar os ouvintes, fazendo uso de uma linguagem completamente alheia aos ouvintes, e de significações mágicas, como se o mesmo tivesse acesso a uma revelação que ninguém mais teve, nenhum pregador na história da pregação, nem mesmo os apóstolos. Fazer uma interpretação do texto bíblico extremamente distante daquilo que o texto de fato quer dizer faz com que o significado essencial da mensagem se perca.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apresentamos aqui apenas alguns princípios que consideramos fundamentais no exercício e análise do ofício da pregação, sabemos que outros aspectos podem ser acrescidos dentro desse grupo. Portanto, esperamos que de algum modo sirvam de orientação para quem prega ou deseja pregar a palavra e não só. São princípios que também podem ser usados como critérios na escolha dos(as) pregadores(as) que podem contribuir na manutenção da nossa espiritualidade.
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