INTRODUÇÃO
Jesus precisava iniciar seu ministério, o tempo kairós de Deus havia chegado e, para tal, João Batista foi uma figura importante para apresentar o Messias ao povo, visto que João estava preparando o ministério de Jesus.
Alguns paralelos podem ser estabelecidos entre o batismo e a tentação: o batismo aconteceu na abundância de água do rio Jordão, na Galileia, a tentação aconteceu na escassez de água do deserto; o batismo foi um evento público, a tentação foi uma agenda particular; o batismo foi na presença do Pai, a tentação na presença do Diabo; no batismo Jesus acolheu a Palavra do Pai, na tentação ele respondeu ao Diabo baseado no que ouviu do Pai.
O evento do batismo de Jesus e sua tentação estão interligados pelo fato de, primeiro, o Pai afirmar sua paternidade, seu amor e prazer em ter Jesus como filho e pelo fato de que o Diabo pôs em dúvida sua filiação na tentação, perguntando-lhe: “Se tu és”.
1. O BATISMO
A relutância de João Batista em batizar Jesus somente é registrada por Mateus, isso para desfazer dúvidas de seus interlocutores os quais eram judeus, para que entendessem que Jesus era maior que João Batista. João Batista, além de relutar batizá-lo, fez a afirmação de superioridade de Jesus: “Eu é que necessito ser batizado por ti e vens tu a mim?”
Por que Jesus teria que ser batizado se ele era sem pecado? Stronstadt dá uma bela descrição afirmando que não era mesmo necessário que ele se batizasse, mas cumprindo a justiça divina, ele se encontrou na mesma água onde os pecadores se batizavam, testificando assim que a graça e a misericórdia de Deus haviam chegado.
Três fatos importantes aconteceram no batismo: os céus se abriram, o Espírito Santo desceu e a voz do Pai afirmou a filiação amorosa de Jesus. Os céus se abriram (rasgaram) como uma revelação (teofania) de Deus, com Ele se incorporando na história humana; a pomba desceu sobre Jesus e ouviu-se a voz do céu fazendo eco no que Isaías (42.1) havia afirmado: “O Senhor Deus diz: “Aqui está o meu servo, a quem eu fortaleço, o meu escolhido, que dá muita alegria ao meu coração. Pus nele o meu Espírito, e ele anunciará a minha vontade a todos os povos.” E a voz amorosa do céu testificou de que o Messias havia chegado.
Sobre a voz do céu, Lucas usa o termo “tu és”, mas Mateus usa “este é”, certamente a versão de Mateus é a mais correta, pois assim todos poderiam ter ouvido a voz, gerando um testemunho público da chegada do Messias. “tu és” indicaria exclusividade na audição, certamente, somente Jesus a teria ouvido.
Notem que Jesus não se tornou filho no batismo, como alguns ousam afirmar, mas apenas o Pai confirmou aquilo que Ele já era desde a eternidade: “O filho amado”.
2. A TENTAÇÃO
Há paralelos entre a tentação de Jesus e a peregrinação do povo de Israel no deserto, 40 anos e 40 dias; o maná e o pão; e a resposta de Jesus ao Diabo em consonância com Dt 8.2-3.
Na tentação de Jesus a ação foi do Espírito Santo de levar, guiar e impeli-lo (Mt 4.1; Mc 1.12 e Lc 4.1) para o deserto, demonstrando que Jesus era guiado pelo Espírito, porém foi uma escolha de Jesus ir para o deserto.
Do mesmo modo que a tentação de Jesus, a nossa tentação é quando todas as forças se viram contra você mesmo, sem que você consiga fazer algo contra ou a favor. Nesse sentido, quando lutas e provações vêm sobre você, se é tentado a duvidar, a revidar, a se irar e dar lugar a sentimentos e ações destrutivas, da mesma forma que foi com Jesus. A grande diferença foi que ele triunfou sobre a tentação.
A tentação é como uma escola de amadurecimento e uma forma de autoconhecimento, isso se prestarmos atenção à natureza e à profundidade das tentações.
Os reformadores incluíram o sofrimento humano causado por vários motivos, como tentações para nos fazer desobedecer e duvidar de Deus. Por isso Lutero disse: “Um/uma homem/mulher de Deus se faz com oração, meditação na Palavra e tentação.”
3. PÃO, PODER E ORGULHO
A primeira tentação tem o propósito de fazer Jesus satisfazer um prazer legítimo, a fome, no momento inapropriado para prejudicar sua relação com o Pai, pois no deserto Jesus estava com o propósito de aprofundar a comunhão com o Pai, preparando-se para iniciar seu ministério. Portanto, a escolha não era por uma coisa boa, o pão, mas pelo melhor, a vontade do Pai.
Pão à imediatismo das soluções fáceis, das coisas não espirituais primeiro. Tratar a fome espiritual com alimento material.
Se tu és: Satanás quer fazer duvidar do amor e cuidado de Deus.
Jesus venceu porque ouviu a Palavra (Rhema) do Pai: “este é…”
Ouvir a voz de amor ao invés das vozes do mundo que querem causar espanto e medo afastado da certeza do amor do Pai; no caso de Jesus, o medo da fome.
O amor do Pai não nos poupa de tribulações, mas é a segurança que temos de sermos queridos.
A Palavra não nos isenta da tentação, mas é o antídoto contra o pecado oculto (embutido) na tentação.
Pináculo à estrelismo e aplausos fáceis, espiritualizando a experiência com o Pai. Testar o poder de Deus com proezas sensacionais.
Na segunda tentação, o ataque do Diabo é ainda mais estratégico, quer manchar o relacionamento entre o Pai e o Filho, propondo-lhe que meça o compromisso de cuidado do Pai, lançando-se do pináculo do templo. O Diabo propõe uma inversão: de ao invés de estar sendo tentado, a se tornar o tentador do Pai.
Isso se repete hoje através de métodos duvidosos e diabólicos, usando-se o nome de Deus em vão.
A terceira tentação; Reinos à poder e orgulho. Trocar a glória de Deus pela glória do mundo.
Render-se aos métodos do Diabo para ser reconhecido e ter domínio sobre tudo. Aqui entra a sede desenfreada por poder e controle que destroem relacionamentos e suscitam as mais variadas artimanhas maldosas.
4. DICERNIMENTO ESPIRITUAL
Ouvir a voz do Pai para não ter dúvidas quanto ao que fazer na hora da tentação, porque o falso engana e vem junto com o verdadeiro.
Recitar e conhecer a Palavra de Deus até o Diabo o sabe fazer muito bem, todavia a hermenêutica do Diabo é perversa, enquanto a de Jesus é cheia de graça e da comunhão com o Pai. A palavra de Deus na boca do Diabo sempre é distorcida e perigosa, é o caso dos profetas da falsa prosperidade.
A tentação do “está escrito” de Satanás leva a apegar-se a interpretações letristas do texto (a letra mata) sem atentar para o Espírito do texto. Esta é a hermenêutica de Satanás, que está fazendo muitos se lançarem do pináculo do templo abaixo, achando que podem mover Deus a fazer qualquer coisa, que podem manipular o divino apenas porque se baseiam na Palavra para terem prestígio, fama e poderem arrebanhar muita gente.
O “Está escrito” de Jesus revela a necessidade que cada um tem de aprofundar a audição da voz do Pai através de sua Palavra escrita, mas também da comunhão espiritual.
É baseada naquilo que a Palavra tem o poder de gerar no coração e na mente do crente, levando-o a adorar a Deus como um estilo de vida, em que Deus é a causa de tudo e o crente o efeito do agir soberano de Deus.
Por isso Jesus disse: “Se vós estiverdes em mim, e as minhas palavras estiverem em vós, pedireis tudo o que quiserdes, e vos será feito.” Jo 15.7
A hermenêutica de Jesus tem a ver com o espírito do evangelho transformador. Como disse Paulo: “[…] derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo.” 2Co 10.5.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Cada um de nós pode escolher ir para o deserto, mas o deserto imposto nos advém das circunstâncias da vida. O deserto de Jesus para ser tentado pelo Diabo foi uma escolha direcionada pelo Espírito Santo. Sua traição, abandono e suplício foi um deserto lhe imposto pelo nosso pecado.
A relação de Jesus com o pai não dependia de tudo dar certinho e se encaixar, NÃO, para Ele a certeza do amor e do cuidado eram mais importantes, Ele amava por aquilo que o Pai era e não por aquilo que Pai poderia dar. O contrário disso gera uma infantilidade na relação, achando que o Pai vai resolver tudo, como por exemplo, impedir que Jesus entrasse em tentação com o Diabo.
Não se deixar tentar pelo desespero das circunstâncias da vida: quando o exército se acampar em volta, não terei medo, quando estourar a guerra, terei confiança, como disse Davi. Sl 27.3.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checbox-analytics | 11 months | Este cookie é definido pelo plug-in GDPR Cookie Consent. O cookie é usado para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Estatísticas. |
cookielawinfo-checbox-functional | 11 months | Este cookie é definido pelo plug-in GDPR Cookie Consent. O cookie é usado para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Funcional". |
cookielawinfo-checbox-others | 11 months | Este cookie é definido pelo plug-in GDPR Cookie Consent. O cookie é usado para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Outros. |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | Este cookie é definido pelo plug-in GDPR Cookie Consent. O cookie é usado para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Necessários". |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | Este cookie é definido pelo plug-in GDPR Cookie Consent. O cookie é usado para armazenar o consentimento do usuário para os cookies na categoria "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | O cookie é definido pelo plug-in GDPR Cookie Consent e é usado para armazenar se o usuário consentiu ou não com o uso de cookies. Ele não armazena nenhum dado pessoal. |